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sábado, 28 de junho de 2008

Prometeu e Pandora: a história da criação.



“Prometeu e Pandora.

A criação do mundo é uma questão que, de modo natural, desperta o mais vivo interesse do homem, seu habitante. Os pagãos da Antiguidade, desconhecendo a informação sobre o assunto que obtemos nas páginas da Escritura, tinham a sua própria forma de contar a história, apresentada como segue.
Antes que a terra, o mar e o céu tivessem sido criados, todas as coisas tinham um único aspecto, ao qual denominamos Caos – uma massa confusa e informe, nada além de peso morto, na qual, entretanto, repousavam as sementes das coisas. Terra, mar, e ar misturavam-se na mesma substância; de modo que a terra não era sólida, o mar não era líquido, e o ar não era transparente. Deus e a Natureza finalmente se interpuseram, pondo um fim a essa discórdia, separando a terra do mar, e o céu de ambos. A parte abrasada, sendo a mais leve, espalhou-se e constituiu o firmamento; o ar foi o próximo em peso e localização. A terra, sendo mais pesada, desceu, e a água alojou-se no nível inferior, fazendo-a boiar.
Nesse ponto, algum deus – não se sabe qual – concedeu os seus bons ofícios a fim de organizar e dispor a terra. Ele escolheu os lugares em que ficariam os rios e as baías, elevou as montanhas, cavou os vales, distribuiu as florestas, as fontes, os campos férteis e as planícies rochosas. Quando o ar clareou, as estrelas começaram a aparecer, os peixes se apossaram do mar, os pássaros tomaram o ar, e as bestas de quatro patas dominaram a terra.
Entretanto um animal mais nobre era desejado, e o homem foi feito. Não se sabe se o criador o fez de materiais divinos ou se o constituiu na terra, que havia tão pouco tempo estava separada do céu que ainda se escondiam por ali algumas sementes celestiais. Prometeu tomou um pouco dessa terra, e modelando-a com água, fez o homem à imagem dos deuses. Deu a ele uma postura ereta, de tal modo que enquanto os outros animais voltavam suas faces para baixo, olhando para a terra, o homem ergue o seu rosto para o céu, e divisa as estrelas.
Prometeu era um dos titãs, uma raça de gigantes que habitavam a terra antes da criação do homem. Ele e seu irmão Epimeteu foram incumbidos de fazer o homem e de dotá-lo, bem como a todos os outros animais, das faculdades necessárias à sua preservação. Epimeteu comprometeu-se a fazê-lo, e Prometeu encarregou-se de supervisionar a conclusão do trabalho do irmão. Epimeteu distribuiu aos diferentes animais os vários dons de coragem, força, agilidade, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapaça protetora ao terceiro, etc. Entretanto, Epimeteu foi tão generoso ao distribuir seus recursos que, quando chegou o momento de prover o homem com faculdades que o fizessem superior a todos os outros animais, nada mais havia sobrado para legar-lhe. Perplexo, recorreu ao irmão Prometeu, que, com o auxílio de Minerva, subiu ao céu e acendeu a sua tocha na carruagem do sol, e trouxe o fogo para o homem. Com esse dom o homem tornou-se muito mais capaz que os outros animais. O dom deu ao homem a possibilidade de criar armas com as quais pôde subjugar os outros animais, instrumentos para cultivar a terra, para aquecer sua morada, para que se amancipasse em relação às variações climáticas, e, finalmente, para criar a arte e cunhar moedas, os meios para realizar negócios e o comércio.
A mulher ainda não havia sido feita. A história (muito inverossímil!) é a de que Júpiter a fez e a enviou a Prometeu e a seu irmão, para puni-los pela presunção de roubar o fogo do céu; e ao homem por ter aceito o presente. A primeira mulher chamava-se Pandora. Ela foi feita no céu, e cada deus contribuiu com algo para aperfeiçoá-la. Vênus deu-lhe a beleza, Mercúrio a persuasão, Apolo a música, etc. Assim equipada, foi conduzida à terra, e apresentada e Epimeteu, que alegremente a aceitou, embora fosse avisado por seu irmão para ter cuidado com Júpiter e seus presentes. Epimeteu tinha em sua casa uma caixa, na qual guardava certos artigos nocivos, aos quais ainda não tinha recorrido enquanto preparava o homem para sua nova morada. Pandora foi tomada por uma impaciente curiosidade de conhecer o conteúdo desse caixa e, certo dia, abriu a tampa para ver o que havia lá. Imediatamente, escaparam dali miríades de pragas sobre os homens – tais como a gota, o reumatismo e a cólica para o seu corpo, e a inveja, o despeito e a vingança para o seu espírito -, que se espalharam para longe e por toda parte. Pandora apressou-se em colocar a tampa de volta sobre a caixa, mas, infelizmente, o conteúdo inteiro já havia escapado, tendo apenas restado uma única coisa no fundo dela, a esperança. Então vemos hoje que, embora haja tantos males, a esperança jamais nos abandona; e, enquanto a tivermos, nenhuma soma de outras enfermidades pode nos fazer inteiramente desgraçados.



Outra história diz que Pandora foi enviada em boa-fé, por Júpiter, para abençoar o homem; que havia recebido uma caixa, com os seus presentes de casamento, nos quais todos os deuses haviam inserido suas dádivas. Pandora abriu a caixa inadvertidamente e todas as dádivas escaparam, com exceção da esperança. Essa versão parece mais provável que a primeira; pois como poderia a esperança, que é tão preciosa quanto uma jóia, ter sido mantida dentro de uma caixa cheia de todos os tipos de males, como na primeira hipótese?”

O Texto acima foi retirado do livro: O Livro da Mitologia – Histórias de Deuses e Heróis, de Thomas Bulfinch.

É impossível não compará-lo à história de Adão e Eva.
Obs. Foto: "Pandora abre a caixa", de Walter Crane (site: http://artfiles.art.com/images/-/Walter-Crane/Pandora-Opens-the-Box-Illustration-for-The-Greek-Mythological-Legend-Published-in-1910-Giclee-Print-C12066627.jpeg)