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sexta-feira, 9 de maio de 2008

“Minha mente, sua mente.”

“Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele. O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam.”. Em O Retrato de Dorian Gray, por Oscar Wilde.

Existe muita sabedoria nas palavras, ditas acima, de Oscar Wilde e é evidente que ele tem razão sobre viver a vida, porém, temos que levar em consideração uma expressão “vulcana” que diz: “minha mente, sua mente”. No universo de Jornada nas Estrelas, do qual eu faço parte, é uma expressão até muito comum e significa que duas pessoas fazem uma espécie de “elo mental”: o que uma delas vê e sente é passada para a outra pessoa que está no elo; seria mais ou menos você vivenciar as emoções de outra pessoa se colocando na mente dela.

Alguns livros que lemos acabam nos criando essa possibilidade devido a riqueza de detalhes, de conflitos ou qualquer que seja o recurso usado pelo autor. Suas histórias nos remetem para lugares e situações que jamais experimentaríamos de outra maneira, fazem-nos sonhar, fazem-nos vivenciar em nossa mente tudo o que se passa dentro daquelas páginas. Por exemplo: li um livro, O Martelo das Feiticeiras, que foi escrito em 1484 por dois inquisidores: Heinrich Kramer e James Sprenger. Ora, esse livro foi, durante quatro séculos, o manual oficial da Inquisição. Ao lê-lo, você se coloca no lugar de um indivíduo que viveu numa época diferente da nossa, com outros valores de moralidade, sexualidade, poder, religião. É um verdadeiro documento. Outros livros fazem você vivenciar alguma história fantástica, ou te levam ao delírio sexual, ou te fazem chorar com o sofrimento de seus personagens.

Um livro também é reflexo de uma época e da vida pessoal de seu autor. As emoções, os fatos, personagens ou conflitos que o autor faz uso refletem o que ele vê em seu mundo real, posso até citar aqui o caso de Nietzsche, que em seu livro, O Anticristo, ou mesmo, Assim falou Zaratustra, prega a construção de um homem menos apegado com a religião, rompendo mesmo com o cristianismo, mas mesmo assim usando em seus discursos uma linguagem profética, tal qual foi sua criação, ou mesmo o querer de um homem melhor, refletindo-se nos horrores da guerra do qual vivenciou um pouco. Nos escritos de Nietzsche, aprendemos a conhecê-lo.

É preciso observar também que sempre existe uma mensagem que é passada para gente através da obra de um autor, seja essa obra um quadro, uma escultura, uma música, filme ou livro. A mensagem pode não ser clara, pode estar nas entrelinhas, ou pode se descoberta mais tarde por um estudioso da obra. Às vezes, é muito difícil descobrir que mensagem é essa: pode ser de esperança, de vingança, de obstinação, de algum sentimento humano. Talvez nem o autor tenha consciência da mensagem, ele pode simplesmente ir contando sua história por que a acha bonita, com inicio, meio e fim, mas que pode vir carregada de valores pessoais, morais, éticos, ou alguma coisa que ele acaba passando para o leitor, ou outro apreciador de uma obra qualquer. Faça uma experiência consigo mesmo e leia o livro: A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, e ao final, tente descobrir qual a mensagem que Kundera quer passar: o amor vence no final? ...o sentimento humano é volátil?... vale apenas lutar por um sonho? Aliás, você irá descobrir que a resposta que você achou é diferente da de um outro colega seu! Claro, seus conceitos de valores e experiências pessoais são diferentes. Ou então tente descobrir o que, por exemplo, eu quero passar para você, meu amigo, com esse singelo texto que escrevo aqui? Cá comigo, eu o estou preparando para falar do livro que estou lendo - Assim Falou Zaratustra, do qual eu vou comentar logo acima, numa próxima postagem, mas provavelmente estou passando a você traços de minha personalidade ou mesmo uma outra mensagem. Cabe a você, leitor atendo, descobrir isso.

A expressão vulcana, logo no início do texto, é proposital, pois gosto de vivenciar com emoção uma fantasia, a fim de que ela possa ficar registrada em minha mente (e agora na sua), fazendo-me sentir como se realmente eu fizesse parte dessa fantasia.

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