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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ecce Homo

Putz...tenho mania de escrever o texto e fazer poucas revisões, então ele acaba saindo mais filosófico do que poético, mas vá lá...



Ecce Homo

Correndo pelas ruas, à noite, a única coisa que importa são os pensamentos. É uma sensação maravilhosa de encontro consigo mesmo – ou de reencontro; o suor descendo o rosto, a batida forte do coração, o cansaço se espalhando pelos músculos – é o corpo clamando por algo reconfortante, nem que chegue via lembranças.

Faço esta jornada há anos, noite após noite, sempre; acho que começou já quando eu era adolescente – vida saudável; claro, andei parando algumas vezes; outras, “dando um tempo” apenas, mas sempre recomeçando, e nunca abandonando este belo hábito, que hoje é uma constante.

Outra noite, numa dessas corridas solitárias, deparei-me com uma lembrança antiga, da época de escola, lá pelos idos dos meus 20 ou 21 anos... Nesta época, eu estudava em uma escola militar, recebia forte doutrinamento sobre disciplina e cultivava, já, bons hábitos da vida saudável; e um desses hábitos era a famosa “corridinha”.

Lembrei perfeitamente de um amigo daquela época, que, ficticiamente, chamarei aqui de Bosco; era um companheiro estimado. Começamos junto na escola, com armários lado-a-lado, mesma sala de aula, e que no dia da formatura, estávamos também juntos – corríamos pelos campos da escola em nossas horas de lazer - saudades. Tenho também um outro destes velhos amigos da época da escola, que também ficticiamente chamarei de Favero; este era um colega mais distante, de um outro curso, com um bom coração, e com a mesma vontade de crescer e ser alguém, e que conversamos algumas boas vezes; na formatura, estávamos lá. Ou o Joaquim, também nome fictício, que só vim reencontrar agora mais tardiamente. Um bom amigo.Ou então aquele, que por seu intermédio , mudei toda a minha vida, dando inicio à família, viagens, profissão e, desavenças crescentes – por que não? – mas amigo.

Os anos passaram e aqui estou, lembrando deles. Esta se torna nossa vida, rodeada e baseada nos amigos que construímos e mantemos, mesmo que distante, sempre nos trazendo algum direcionamento.

Esta mesma saudade, devido a distância e ao tempo, trás também a curiosidade de saber que destino a vida lhes reservou. O vínculo físico foi perdido, mas não a lembrança. Gostaria muito de poder convidá-los a virem a minha casa e, depois de muitos anos, sentarmos então junto a um fogo, em um dia frio, e poder ouvir as histórias de suas vidas e a começar a entender as pessoas às quais se tornaram.

Nosso destino.

Todos temos alguma idéia do que seja o mundo, do que sejam as pessoas, para onde vamos, o que somos. A religião tem papel fundamental nesta questão, pois ela explica coisas que nosso senso comum não conseguiria explicar; mas também a filosofia, a ciência e a própria experiência de vida nos explica muita coisa. Nossas experiências de vida são moldadas sobre estes alicerces cheios de preconceitos e falsas afirmações, falsos ídolos, meias verdades; e o fruto disso, somos nós. Quem consegue sair desta “caverna” encontra um outro mundo ainda mais cheio de dúvidas e perguntas.

Em meu mundo, cheio de dúvidas, acredito que três pilares da ambição levam o Homem para seu destino; são eles: o status, o poder e o dinheiro. Você, com certeza, se encaixará em um destes três pilares. A forma como você alcança isso varia muito: alguns usam a inteligência para terem o status desejado, ou se aliam a outras pessoas pelo casamento para alcançarem o mesmo status, ou então se aliam para terem o poder, usando a política; outros usam o terror para ter o status ou o dinheiro; influência sexual, influência pessoal – várias são as maneiras de se atingir o objetivo. E uma das coisas que faz a ponte entre o objetivo final - que é status, poder e dinheiro - e as ferramentas que dispomos para atingi-los são as nossas emoções.

Os sete pecados capitais.

Eu posso estar muito enganado, mas acredito que o que realmente move o mundo para frente são as qualidades que normalmente não etiquetamos como “virtudes”. Os tais sete pecados capitais, e tantos outros mais, são o maior exemplo; todas as grandes descobertas, novos desafios, as mudanças de paradigmas, tudo tem a mão destas contra-virtudes, em tudo foi necessário uma boa dose de ambição, de luxúria, de gula; os ressentimentos, mágoas e tristezas construíram grandes obras para a humanidade; os loucos, os excêntricos, os depravados , todos deixaram sua marca na história e provavelmente estavam atrás do que todos querem: status, poder ou dinheiro. As virtudes “saudáveis” tais como o amor, a alegria, a esperança, a caridade e tantas outras, sempre foram os limites da tolerância, algo para poder contrabalançar e dosar o outro lado do caos.

Veja, não quero dizer que devemos ser maus, ou dizer o que é certo ou errado, mas sim constatar algo que vemos no dia-a-dia – ou analisado à luz da própria história -; por exemplo, um grande ídolo da televisão ou cinema, que é bonito, bem sucedido, prega a bondade em seus personagens, talvez seja uma pessoa extremamente egocêntrica, arrogante, usou muito dos atributos sexuais para conseguir o seu status e de quebra ainda atingiu o dinheiro, sabe-se lá em quantos ela não passou a perna para chegar no topo da ambição desejada? Hitler - louco, excêntrico - mandou milhares de pessoas para a morte, foi fruto de uma época que sucedeu às descobertas de Darwin sobre a evolução, pois logo depois já começaria no mundo uma era de descobertas pelo gene perfeito e então, a sua loucura veio à tona; mas com ele veio também o V2, um foguete que provavelmente deu origem à corrida espacial e que culminou em nossos meios de transporte aéreos; veio o desenvolvimento de tantas tecnologias para a guerra, tais como a do transistor; a fisioterapia, minha profissão, veio desta época, pois as seqüelas de guerra eram enormes.

As pessoas vivem desafiando as regras, superando seus limites, vencendo obstáculos, superando tabus e preconceitos. E não consigo imaginar tudo isso, sem os sete pecados capitais e tantos outros que fingimos não gostar, mas que usamos fartamente no jogo da vida. E essa é uma das grandes forças motrizes do mundo.

A pessoa que me tornei.

Não é uma coisa legal julgar as pessoas, pois nossos parâmetros não são o correto, estamos impregnados de preconceitos, de ódio, de hipocrisias, de verdades que só valem para nós mesmos; mas a gente acaba julgando e percebemos isso quando escolhemos nossas amizades, e eu escolho minhas amizades pelo que sou e pelo que me tornei: a fonte de referência sempre será eu.

“SIM” para o meu questionamento inicial; gostaria de voltar a rever velhos amigos e poder entender a trajetória que seguiram na vida e o que se tornaram hoje.

Tenho tanta curiosidade a respeito de meus velhos amigos, será que algum deles tem um mínimo interesse pelo trabalho de Carl Orff, ou já assistiu ao Barbeiro de Sevilla, ou já dançou um tango, conheceu umas das Sete Maravilhas do Mundo, ou já leu algo sobre o Olho de Hórus, ou já viu alguma múmia em algum museu, ou já leu sobre o famoso Louvre... que espécie de cultura vinte e poucos anos separam uma amizade?

Or can they realize, for example, that globalization it is a process where big companies become owner of you, not your country anymore; and speaking and learning english it not just to put a mark at you small company? or else...to say that stars from some novel are going to "Nova Iorque"? in our small mind can they imagine how big is the transformation of the world?

Será “que eles conseguiram aquele brilho questionador no olhar” daquelas pessoas que não levam dúvidas para casa, ou apenas se tornaram mais um dos que calam e consentem?; será que cultuam após tanto tempo os bons hábitos da vida saudável, como boa alimentação e atividade física, ou será que já cederam ao consumismo moderno e se dedicam a brincar com as várias engenhocas eletrônicas, carros novos sempre e muita fartura na mesa?

E quanto à informação? Quantos deles será que já assistiram a um bom filme, não vindo de Hollywood ganhador de Oscar, mas ganhadores de muitos expectadores em busca de qualidade? ou se já procuraram ler algum livro de profunda filosofia e entendimento, ou clássicos da boa literatura, ou se apenas sentam no sofá e assistem rotineiramente ao Jornal Nacional em busca das velhas notícias padrão, para discutí-las no serviço, no dia seguinte: chacina, crise nos Estados Unidos, corrupção no governo e artista drogado? ... medíocre, não?

Família... tens? ... apenas uma? ou já cedeu ao modernismo? ... daquele que substitui a traição pelo divórcio? ...da substituição da conversa com o filho, pelo vídeo-game e televisão “cultural”. Tens tempo para a família, ou ela está em segundo plano na sua vida? Põe se filho de castigo, ou acha que a tal “conversa” ainda é o melhor negócio? ... conte tudo, amigo! Quem é você afinal?

Uma outra grande curiosidade que tenho sobre o amigo é saber que se ao assistir ou ler alguma obra de William Shakespeare ele irá derramar alguma lágrima; olhe só que curiosidade a minha?! ... “chorar”? sim, amigo, chorar. Quer emoção maior do que a comoção com um belo drama? Consegue chorar? rir com vontade? é humano o suficiente para aceitar essa possibilidade de não esconder suas emoções?

Meu amigo, sente-se ao meu lado, vamos jogar uma partida de xadrez enquanto você me conta como é a pessoa que você se tornou. Não quero saber se você tem casa própria, rolex no pulso ou carro novo na garagem, você nunca será meu amigo por isso, pois meus amigos devem ser parecidos comigo; apenas não tenha receio de me dizer a verdade, de me olhar nos olhos, de me contradizer; pois só assim saberei que tornando-se o que você se tornou, ainda continua com aquele olhar de um bom e velho amigo, que nunca fingirá ser amigo, mas que apenas e simplesmente o será.

O que não foi escrito aqui fica nas entrelinhas: ninguém é perfeito.



O título “Ecce Homo” vem da obra de F. Nietzsche, com mesmo nome, uma obra extremamente egocêntrica, auto-crítica e, diga-se de passagem, um belíssimo trabalho. Traduzindo: Eis o Homem.

Um comentário:

George Kieling disse...

Puxa, eu mal postei o texto e alguém já malhou! Realmente R., o texto está muito cruel, mas esta é mesmo a intenção; é um texto filosófico, para reflexão. Já parou para ver quantos textos e livros temos circulando por aí falando para você tirar proveito das pequenas coisas da vida, ou para você "cuidar mais do seu jardim" ? ... se eu fizesse isso, seria mais um texto de auto-ajuda, pregando para a bondade e a simplicidade da vida. Não, realmente não quero isso, não é a minha cara; a intenção é oferecer a você o outro lado da moeda. Amigo meu não precisa ser necessariamente um bonzinho.

Mas não se preocupe R, se você também tiver um bom coração e quiser ser meu amigo, eu ficarei honrado da mesma maneira.