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sábado, 28 de junho de 2008

Prometeu e Pandora: a história da criação.



“Prometeu e Pandora.

A criação do mundo é uma questão que, de modo natural, desperta o mais vivo interesse do homem, seu habitante. Os pagãos da Antiguidade, desconhecendo a informação sobre o assunto que obtemos nas páginas da Escritura, tinham a sua própria forma de contar a história, apresentada como segue.
Antes que a terra, o mar e o céu tivessem sido criados, todas as coisas tinham um único aspecto, ao qual denominamos Caos – uma massa confusa e informe, nada além de peso morto, na qual, entretanto, repousavam as sementes das coisas. Terra, mar, e ar misturavam-se na mesma substância; de modo que a terra não era sólida, o mar não era líquido, e o ar não era transparente. Deus e a Natureza finalmente se interpuseram, pondo um fim a essa discórdia, separando a terra do mar, e o céu de ambos. A parte abrasada, sendo a mais leve, espalhou-se e constituiu o firmamento; o ar foi o próximo em peso e localização. A terra, sendo mais pesada, desceu, e a água alojou-se no nível inferior, fazendo-a boiar.
Nesse ponto, algum deus – não se sabe qual – concedeu os seus bons ofícios a fim de organizar e dispor a terra. Ele escolheu os lugares em que ficariam os rios e as baías, elevou as montanhas, cavou os vales, distribuiu as florestas, as fontes, os campos férteis e as planícies rochosas. Quando o ar clareou, as estrelas começaram a aparecer, os peixes se apossaram do mar, os pássaros tomaram o ar, e as bestas de quatro patas dominaram a terra.
Entretanto um animal mais nobre era desejado, e o homem foi feito. Não se sabe se o criador o fez de materiais divinos ou se o constituiu na terra, que havia tão pouco tempo estava separada do céu que ainda se escondiam por ali algumas sementes celestiais. Prometeu tomou um pouco dessa terra, e modelando-a com água, fez o homem à imagem dos deuses. Deu a ele uma postura ereta, de tal modo que enquanto os outros animais voltavam suas faces para baixo, olhando para a terra, o homem ergue o seu rosto para o céu, e divisa as estrelas.
Prometeu era um dos titãs, uma raça de gigantes que habitavam a terra antes da criação do homem. Ele e seu irmão Epimeteu foram incumbidos de fazer o homem e de dotá-lo, bem como a todos os outros animais, das faculdades necessárias à sua preservação. Epimeteu comprometeu-se a fazê-lo, e Prometeu encarregou-se de supervisionar a conclusão do trabalho do irmão. Epimeteu distribuiu aos diferentes animais os vários dons de coragem, força, agilidade, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapaça protetora ao terceiro, etc. Entretanto, Epimeteu foi tão generoso ao distribuir seus recursos que, quando chegou o momento de prover o homem com faculdades que o fizessem superior a todos os outros animais, nada mais havia sobrado para legar-lhe. Perplexo, recorreu ao irmão Prometeu, que, com o auxílio de Minerva, subiu ao céu e acendeu a sua tocha na carruagem do sol, e trouxe o fogo para o homem. Com esse dom o homem tornou-se muito mais capaz que os outros animais. O dom deu ao homem a possibilidade de criar armas com as quais pôde subjugar os outros animais, instrumentos para cultivar a terra, para aquecer sua morada, para que se amancipasse em relação às variações climáticas, e, finalmente, para criar a arte e cunhar moedas, os meios para realizar negócios e o comércio.
A mulher ainda não havia sido feita. A história (muito inverossímil!) é a de que Júpiter a fez e a enviou a Prometeu e a seu irmão, para puni-los pela presunção de roubar o fogo do céu; e ao homem por ter aceito o presente. A primeira mulher chamava-se Pandora. Ela foi feita no céu, e cada deus contribuiu com algo para aperfeiçoá-la. Vênus deu-lhe a beleza, Mercúrio a persuasão, Apolo a música, etc. Assim equipada, foi conduzida à terra, e apresentada e Epimeteu, que alegremente a aceitou, embora fosse avisado por seu irmão para ter cuidado com Júpiter e seus presentes. Epimeteu tinha em sua casa uma caixa, na qual guardava certos artigos nocivos, aos quais ainda não tinha recorrido enquanto preparava o homem para sua nova morada. Pandora foi tomada por uma impaciente curiosidade de conhecer o conteúdo desse caixa e, certo dia, abriu a tampa para ver o que havia lá. Imediatamente, escaparam dali miríades de pragas sobre os homens – tais como a gota, o reumatismo e a cólica para o seu corpo, e a inveja, o despeito e a vingança para o seu espírito -, que se espalharam para longe e por toda parte. Pandora apressou-se em colocar a tampa de volta sobre a caixa, mas, infelizmente, o conteúdo inteiro já havia escapado, tendo apenas restado uma única coisa no fundo dela, a esperança. Então vemos hoje que, embora haja tantos males, a esperança jamais nos abandona; e, enquanto a tivermos, nenhuma soma de outras enfermidades pode nos fazer inteiramente desgraçados.



Outra história diz que Pandora foi enviada em boa-fé, por Júpiter, para abençoar o homem; que havia recebido uma caixa, com os seus presentes de casamento, nos quais todos os deuses haviam inserido suas dádivas. Pandora abriu a caixa inadvertidamente e todas as dádivas escaparam, com exceção da esperança. Essa versão parece mais provável que a primeira; pois como poderia a esperança, que é tão preciosa quanto uma jóia, ter sido mantida dentro de uma caixa cheia de todos os tipos de males, como na primeira hipótese?”

O Texto acima foi retirado do livro: O Livro da Mitologia – Histórias de Deuses e Heróis, de Thomas Bulfinch.

É impossível não compará-lo à história de Adão e Eva.
Obs. Foto: "Pandora abre a caixa", de Walter Crane (site: http://artfiles.art.com/images/-/Walter-Crane/Pandora-Opens-the-Box-Illustration-for-The-Greek-Mythological-Legend-Published-in-1910-Giclee-Print-C12066627.jpeg)

terça-feira, 27 de maio de 2008

“Assim Falou Zaratustra” – Primeiras impressões.

Assim falou Zaratustra é um livro muito bonito escrito em quatro partes pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche. A primeira parte deste livro foi escrita em fevereiro de 1883 e tomou apenas 10 dias do tempo de Nietzsche ; em julho do mesmo ano, escreveu a segunda parte, também em 10 dias; em janeiro de 1884, a terceira parte; e um ano depois, a quarta e última parte. O livro é uma obra-prima da literatura universal e da filosofia, e também considerada a magnum opus dos escritos de Nietzsche.

Como não devia deixar de ser, a primeira vez que tomei conhecimento de Nietzsche foi assistindo a um episódio de Jornada nas Estrelas, onde fez-se uma breve referência a ele usando uma de suas famosas citações: “a humanidade é algo a ser superado.” O episódio falava sobre a criação de pessoas superiores – até acho que nas últimas dezenas de anos já devemos ter ouvido falar nisso várias vezes, não é? A partir daí, comecei uma extensa pesquisa até chegar ao tal livro – Assim Falou Zarastustra - fonte da referida citação. Devo confessar: fiquei impressionadíssimo com a obra, e levando em conta que estou somente na primeira parte do livro!

Nietzsche foi um filósofo prático, muito inteligente, com livros de conteúdo significativo, cuja obra e pensamento refletem sobre a vida e o comportamento humano e que valem para toda a eternamente, pois abordam verdades universais.

Quando leio um livro desse porte não gosto muito de conhecer antecipadamente as idéias de outras pessoas sobre tal entendimento, não antes de acabar o livro e ter minha própria opinião sobre o assunto. Acho essa técnica muito interessante para que eu mesmo possa tirar minhas próprias conclusões sobre o assunto sem me “contaminar” com outras opiniões. Feita a leitura, já posso então comparar o que achei do livro com a opinião de outras pessoas, os ditos exegetas. Mas o Zaratustra não é tão fácil assim de ler e acabei fazendo uma pequena pesquisa paralela sobre Nietzsche, sua vida e seus escritos. E antes que eu mude de opinião deixe-me postar aqui o que eu achei do livro.

Você vai encontrar na internet centenas de links falando sobre Nietzsche e seus trabalhos, vou até deixar alguns aqui, no final desta postagem, apenas para referência. Não é minha intenção falar sobre filosofia ou sobre a vida dele, pois nem tenho conhecimento para tal, vou apenas deixar registrado a minha visão inicial de como é uma pessoa leiga em filosofia ler um livro dele, as dificuldades, as belezas, os ensinamentos e tudo mais que der para passar. Antes de falar sobre essa primeira parte do Zaratustra, vamos a uma pequena biografia de Nietzshe, ah...não se preocupe, com o tempo, você aprenderá a escrever o nome dele.

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de novembro de 1844 em Roccken, Alemanha e veio a falecer em 25 de agosto de 1900, em Weimar, Alemanha. Sua infância foi conduzida de acordo com a formação religiosa de seu pai, um pastor luterano, mas na adolescência acaba se desvinculando da sua fé e entra para o curso de filologia na Universidade de Leipzig. Aos 25 anos é nomeado professor de filologia na universidade de Basiléia. Ao longo dos 10 anos seguintes, durante o ofício da docência, desenvolve sua acuidade filosófica. Importantes influências em sua vida foram a leitura de Schopenhauer, o contato com o pensamento grego antigo, a sua amizade com Richard Wagner, o seu trabalho como enfermeiro voluntário na Guerra Franco-prussiana, entre outras. Em 1879 abandona o posto de professor em função de sua saúde precária e começa então a viver de cidade em cidade a procura da cura de sua doença e onde se dedica intensamente a sua filosofia. Em 1882 apaixona-se por uma jovem russa da qual nega-lhe um pedido de casamento, mas permanece uma grande amizade entre ambos. Em fevereiro de 1883 cria a primeira parte do livro Assim falou Zaratustra – Um livro para todos e para ninguém. Nietzsche continua a escrever em ritmo crescente e em janeiro de 1889 tem uma crise mental. Fica, a partir de então, até sua morte, sob a tutela da mãe e da irmã.

Certamente você irá encontrar muitos estudos e biografia de Nietzsche, que falam sobre sua vida detalhadamente, sua obra, suas influências, seu pensamento. A idéia aqui é apenas uma abordagem geral desse filósofo notável.

Para situá-lo dentro da história vamos a algumas datas e fatos importantes:

A Guerra Franco-prussiana:
Bismarck, a união dos estados alemães e a queda de Napoleão III. A Guerra Franco-Prussiana remodelou a Europa e preparou o caminho para a Primeira Guerra Mundial.A Guerra Franco-Prussiana desenrolou-se de 19 de Julho de 1870 a 10 de Maio de 1871, tendo como adversários o Império Francês e o Reino da Prússia. O conflito marcou a culminação das tensões entre as duas potências após o crescente domínio da Prússia sobre a Alemanha, na época ainda uma federação de territórios quase que independentes. Esta guerra sinalizou o crescente poderio militar e o imperialismo da Alemanha. Foi provocada por Otto von Bismarck, o chanceler prussiano, como parte do seu plano de criar um Império Germânico unificado.

A Origem das Espécies:
(nome completo: "Sobre a origem das espécies através da selecção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida", tradução de On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life) foi um livro escrito pelo naturalista britânico Charles Darwin. É um dos livros mais importantes da história da Biologia. Nele, Darwin propõe a teoria de que os organismos vivos evoluem gradualmente através da seleção natural.O livro foi publicado pela primeira vez a 24 de Novembro de 1859, esgotando rapidamente e criando uma controvérsia que ultrapassou o âmbito académico, ao chocar com a crença religiosa na criação, tal como é apresentada na Bíblia, no livro de Gênesis.

Iluminismo:
Este movimento surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade. Os pensadores que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. A apogeu deste movimento foi atingido no século XVIII, e, este, passou a ser conhecido como o Século das Luzes. O Iluminismo foi mais intenso na França, onde influenciou a Revolução Francesa através de seu lema: Liberdade, igualdade e fraternidade. Também teve influência em outros movimentos sociais como na independência das colônias inglesas na América do Norte e na Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil. Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados a nobreza e ao clero.

Totalitarismo
Os regimes totalitários nasceram em uma época em que o capitalismo passava por uma crise. Após a 1ª Guerra Mundial, veio a crise de 1929 nos Estados Unidos, que havia crescido economicamente com a guerra, até a crise conhecida como a grande depressão.Com o capitalismo em crise, tendo seus conceitos questionados, houve o surgimento de um regime que procurou ter um estado forte para que não houvesse transformações. A liberdade de pensamento deu lugar à censura e à repressão.O totalitarismo ocorreu em alguns países, cada um com seu nome, mas com as mesmas características.


Sobre Assim Falou Zaratustra.

Tenho certeza, que se você procurar na internet, encontrará muitos links falando sobre quem realmente foi Zaratustra, sobre as divisões do livro e sobre o conteúdo filosófico desenvolvido pelo autor ao longo de suas páginas, bem como uma bibliografia detalhada de Nietzsche. Eu, em poucas palavras, não conseguiria falar nada aqui sobre tudo isso, e entendo que quanto mais leio sobre ele e suas obras, mais coisas tenho a aprender: é um mundo a parte e certamente ainda vou me aventurar pelo restante de suas obras e sua vida como filósofo. Portanto, vou registrar aqui, tão somente as impressões iniciais que tive, impressões de um leigo em filosofia, sobre a primeira parte do livro Assim Falou Zaratustra, pois ainda estou lendo as demais partes.

Se você espera uma história coerente dentro do livro, não irá encontrá-la. A obra é escrita de tal forma que você, após ler o preâmbulo, poderá lê-la a partir da parte que melhor lhe aprouver. Nietzsche tem uma forma muito peculiar de escrever. São parágrafos curtos, com frases inteligentes, e completamente fragmentadas. O livro só se torna coerente como uma unidade, pelo menos essa foi a impressão que tive. Não é um livro que conta uma história, com inicio, meio e fim. É uma obra de filosofia, escrita de uma forma muito inteligente, onde um personagem, o Zaratustra, representando um sábio, desce de sua montanha para anunciar a chegada de um novo homem: o super-homem. Inicialmente ele prega os seus ensinamentos para o povo, depois ele prega para seus discípulos e finalmente ele prega para algumas pessoas que se dispõe a ouvi-lo. A temática do livro gira em torno de o Homem, tal qual o conhecemos, ser um ser em evolução, ou seja, ele seria “uma corda distendida entre o animal e o super-homem”, segundo a visão de Zaratustra-Nietzsche. Se você simplesmente começar a ler o livro, sem qualquer espécie de preparo, correrá o risco de não entender muito bem a mensagem que Nietzsche quer transmitir. Foi muito útil para mim, poder ler um pouco sobre os fatos históricos que cercaram essa época (séc XIX), tais como o totalitarismo, o iluminismo, a guerra franco-prussiana, e a mudança de paradigma da origem do homem, com o lançamento do livro A Origem das Espécies (Charles Darwin), com os links indicados acima. Assim feito, foi possível entender um pouco mais sobre as idéias desenvolvidas neste livro.

A primeira impressão que tive foi tratar-se de uma auto-biografia, pois há muitas passagens na primeira parte do livro, que dão a entender tratar-se do próprio Nietzsche, tais como o fato de Zaratustra precisar se afastar da sua pátria por 10 anos, tal qual fez Nietzsche, quando se afastou de seu oficio por motivos de saúde e saiu a vagar por várias cidades; ou o fato de Zaratustra ser um sábio que estava acima de muitas pessoas em seu conhecimento, pois Nietzsche também entendia muito bem a sociedade e o ser humano, pois foi um grande estudioso de várias obras do pensamento, e talvez ele se considerasse acima da média do pensamento da época. O fato de Zaratustra pregar a morte de Deus reflete o seu afastamento da religião e também o fato de ele pregar a vinda de um super-homem, reflete sua influência pelo Darwinismo, em minha opinião. Em Do novo ídolo, ele faz uma crítica explícita ao Estado. Zaratustra prega sobre a mulher, sobre Deus, sobre a castidade, sobre os amigos, sobre o povo, sobre o casamento, sobre tudo um pouco. Nietzsche expõe suas idéias e pensamentos a cerca do mundo em que vive e de sua crença em um ser melhor através dos ensinamentos de Zaratustra e fala em uma linguagem cheia de sabedoria, tentando reconhecer as virtudes necessárias em cada um desses tópicos, ou seja, tentando mostrar o que seria necessário para que o homem comum tornar-se um super-homem. Ele se mostra como um anunciador desse homem melhorado, que ainda estaria por chegar.

Eu, ao ler essa primeira parte, tive a impressão de tratar-se de uma autobiografia, pois até ele mesmo reconhece isso quando fala nos escritos sobre Wagner e Schopenhauer. Também Jung diz que Zaratustra é Nietzsche em um simpósio alguns anos após a sua morte, mas quando você lê um pouco mais sobre sua vida, suas influências, sua época e outros de seus livros, essa impressão acaba dissipando-se. Suas idéias vão muito mais além do que uma autobiografia, mas claro, deixando traços de sua personalidade por toda sua obra.

Sobre sua maneira de escrever.

Algumas obras atingem um grande número de pessoas, pois possuem uma linguagem simples de entender, com frases pequenas e acessíveis a uma grande parcela da população e versam sobre temas pouco complexos e que mexem com a imaginação da maioria das pessoas: seriam os livros de Paulo Coelho um exemplo? Outras obras exigem um pouco mais de instrução e interesse e atingem uma parcela um pouco menor, e são para um público mais seleto. Mas algumas obras são realmente fascinantes: exigem um leitor atendo e estritamente seleto. Eu considero o livro de Nietzsche - Assim Falou Zaratustra, para esse último grupo de leitores. Segundo suas próprias palavras: “Os figos caem das árvores: são bons e doces; e conforme caem assim se lhes abre a vermelha pele. Eu sou um vento do Norte para os figos maduros.” Parece óbvio que sua mensagem não é para todos, apenas para as pessoas mais “maduras”, tanto para os figos, quanto para os seguidores de Zaratustra, quanto para os leitores de Nietzsche, ao meu ver.

O livro tem muitas palavras e muitos assuntos desconexos tornando-o uma leitura muito difícil. Eu, por exemplo, quando li Das Três transformações, de cara não entendi muito bem a diferença entre o camelo, o leão e a criança, mas foi necessário mais duas ou três leituras atentas para entender a mensagem que ele transmite naquela passagem, é difícil mas não impossível, e o livro é tão extraordinário, que quanto mais você o lê, mais você vai entendendo o sentido que ele procura dar as suas frases. Ele costuma escrever também usando os aforismos, que são sentenças curtas que concentram um conceito de significado universal, ou seja, em algumas frases você tem o conteúdo filosófico de toda uma idéia: seu pensamento fica eternizado nessas citações. Na postagem que faço logo abaixo, aqui mesmo no blog, sintetizo as principais citações de Nietzsche da primeira parte de Zaratustra, que dá uma pequena idéia do uso de aforismos por Nietzsche e uma das citações que mais me chamam a atenção é esta que segue: “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.” Veja que pensamento profundo é este, e ele nos rodeia o tempo todo e nem percebemos. Aprendi nos tempos de faculdade, por exemplo, na cadeira de psicologia, que numa crise, o individuo passa por quatro fases, onde a primeira, evidentemente é a negação e que a seguir ele irá passar sistematicamente por outras fases, aceitando seu problema, até chegar à superação (última fase), mas ele precisa chegar ao fundo do poço para retornar renovado e é exatamente isso que Nietzsche diz com aquela frase; ou, então, a mãe que diz para alguém: - deixe ela chorar bastante que isso ajuda!; ou então algo como uma grande criação que nasce de uma tristeza profunda, tal qual uma matéria que tenho citada aqui mesmo no blog chamada: A grande arte e a dor

É preciso saber extrair das entrelinhas de sua obra toda a maestria deste artista: é um estilo diferente, é uma escrita inteligente e Zaratustra é o caminho para vários outros de seus livros.

Uma passagem bastante interessante citada por Simone Azevedo diz o seguinte:

“E mais, Nietzsche pede leitores que possam traí-lo, não quer seguidores, detesta rebanhos que vão atrás de um pastor e tem horror ao espírito gregário que caracteriza o nosso mundo contemporâneo.

Retribui-se mal o mestre permanecendo seu aluno. Se quem lê não se torna um mestre, se não toma o seu caminho, isso significa que não aprendeu a andar sozinho, por conta própria. Com relação a isso dizia Zaratustra: Então, vos ordeno que me percais e que vos encontreis!” um dos mais profundos ensinamentos de Nietzsche (NA. ...e eu concordo plenamente).

Assim, seu texto é complexo exigindo um certo esforço de quem lê, com certas nuances e contradições que são verdadeiras desafios para o pensamento, uma vez que ele exige do leitor que este pense uma pluralidade de perspectivas contrariando o nosso gosto pelas redundâncias.

A maioria dos fragmentos com os quais nos deparamos possui uma série de inflexões: aparecem aspas que colocam a palavra ou o conceito sob suspeita, a pontuação é enfática, e nada disso é gratuito. Esta característica faz parte de toda a sua obra.”

Sobre a vinda do super-homem.

De onde Nietzsche tirou essa idéia de super-homem?

Não sei realmente, mas posso fazer algumas suposições, baseado apenas em minhas leituras preliminares.
Certamente Nietzsche teve algumas influências para escrever este livro, mas segundo minha ótica, uma obra que deve tê-lo marcado profundamente foi Crime e Castigo, de Dostoievski (1866), pois quando vi uma resenha do livro fiquei admirado com o tema, pois trata da tríade: culpa, castigo e redenção, ou seja, tudo que prega a igreja católica, da qual Nietzsche se mostra avesso e de onde saiu a expressão: “Se Deus não existe, tudo é possível”. Essa idéia de um homem solitário, sem Deus, fazendo justiça com as próprias mãos e vivendo em função apenas de seus ideais, tem tudo a ver com o populismo russo do século XIX o qual gerou uma série de heróis anarquistas. Mas o herói de Nietzsche não é castigado nem precisa de redenção, pois ele é um ser evoluído e cria sua própria moral, pois se Deus não existe, o super-homem tem que ser um criador. Esse super-homem não se confunde com aqueles dos quadrinhos criado em 1933 por Jerry Siegel e Joe Shuster, para “resolver” o problema da Grade Depressão de 1929 nos Estados Unidos. O super-homem de Nietzsche, que na verdade é um “além-homem”, é uma pessoa comum, que possui uma série de qualidades de um homem evoluído, alguém com virtudes além das dos homens normais. Eu tenho a nítida impressão que há uma clara referência às teorias de Charles Darwin sobre evolução. Para Darwin, o homem atual é fruto de uma série de melhorias incorporadas ao seu organismo através de um processo evolutivo, onde apenas os mais aptos passam adiante esses melhoramentos. O super-homem de Nietzsche também é fruto de melhoramentos, mas não de características físicas, mas sim de suas virtudes. Eu tenho até um texto antigo falando sobre a evolução das virtudes do ser humano: Filosofia da Maria sobre a vida, o universo e tudo mais.

Essa necessidade de um ser humano melhor deve ter recebido influências da “degeneração” da sociedade daquela época em virtude do movimento chamado iluminismo, entre outras razões. Havia uma cada vez mais crescente vulgarização do saber, inclusive o super-homem de Nietzsche veio a sofrer uma vulgarização também com a onda dos super-heróis em quadrinhos que se espalhou pela América do Norte, alguns anos mais tarde, após sua morte. Afinal, num mundo cada vez mais perigoso, estamos sempre precisando de “alguém para nos defender”.

Outro dia, passando meio que rápido em frente a minha TV, acabei assistindo o finalzinho de um filme chamado “V de Vingança” cuja máscara do ator do filme já logo me chamou a atenção e até acabei gostando da mensagem passada por este filme. Apanhei-o então na locadora e acabei assistindo novamente: uma mensagem muito interessante, sobre como o ser humano está se tornando ignorante novamente, apesar dos avanços tecnológicos e como se dá o controle estatal sobre a população: cria-se um estado de perigo (que na verdade não existe) e depois promete-se a salvação. Eis que surge então um super-herói para abrir os olhos do povo. Esse super-herói nada mais é do que o super-homem de Nietzsche, que reúne todas as condições para tal: é um ser que está acima da moral tradicional, que é forte, que cria suas próprias leis, que é culto e instruído, que quer seguidores e espera que eles “amadureçam”, tal como o fez com a heroína do filme e com o inspetor. Vejam o filme, que sua mensagem é ótima e daria até para escrever um texto aqui no blog sobre esse assunto: a inquisição está de volta.

Bem, eu poderia escrever muito aqui no blog sobre Zaratustra, sobre Nietzsche, sobre a influência de sua obra em nossa vida cotidiana e assunto é que não falta, e isso apenas com a primeira parte do livro que já li. Os entendidos que me desculpem, mas os escritos aqui no blog são apenas uma visão pessoal que tive do pouco que li e sei que muito ainda pode ser comentado ou mesmo corrigidos e eu agradeceria enormemente se houvesse comentários aqui a esse respeito. Tudo vem a acrescentar e nos engrandecer.

Voltando agora à Jornada nas Estrelas, acabei descobrindo exatamente o que se quis dizer no episódio com a frase: “A humanidade é algo a ser superado”, e fui bem além. E como já dizia A. Einstein, “A mente que se abre a uma nova idéia, jamais volta ao seu tamanho original”.

Links de referência:

http://www.zaz.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento.htm#inicio
http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche
http://pt.shvoong.com/books/philosophy/256380-assim-falou-zaratustra/

http://www.cienciaefe.org.br/JORNAL/ed90/mt07.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Super-Homem_(filosofia)
http://pt.shvoong.com/humanities/1707052-anti-super-homem/
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cjornalista/gd011206.htm
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_super_homem.htm
http://paginas.terra.com.br/arte/dubitoergosum/editor27.htm


Citações de Nietzsche.

Seguem abaixo as principais citações usadas na primeira parte do livro Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche:

1- O homem é um rio turvo. É preciso ser mar para, sem se toldar, receber um rio turvo.

2- Uma virtude é mais virtude do que duas.

3- É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.

4- Quem dá comida ao faminto reconforta a sua própria alma.

5- ...deixar brilhar a nossa loucura para zombarmos da nossa sabedoria.

6- Aquele que conduz a suas ovelhas ao prado mais viçoso, para mim será melhor pastor.

7- Prefiro pouco ou má companhia; mas é necessário que venha e se vá embora no momento certo.

8- Nunca viste uma virtude caluniar-se e aniquilar-se a si mesma? O homem precisa ser superado. Por isso necessitas amar as tuas virtudes, porque por ela morrerás.

9- O que sucede à árvore sucede ao homem. Quanto mais se quer erguer para o alto e para a luz, mais vigorosamente enterra suas raízes para baixo, para o tenebroso e profundo: para o mal.

10- (Mancebo) Eu me transformo muito depressa: o meu hoje contradiz o meu ontem. Com freqüência salto degraus quando subo, coisa que os degraus não perdoam. Quando chego em cima, sempre me encontro só.

11- Os teus cães selvagens querem ser livres; ladram de prazer no seu covil quando o teu espírito tende a abrir todas as prisões. (Quando você alcança vôos maiores, você abre as portas, tanto do bem, quanto do mal.)

12- Não é possível estar calado e permanecer tranqüilo se não quando se tem flecha no arco.

13- Quem pouco possui tanto menos é possuído. Bendita seja a nobreza.

14- Nunca a verdade pendeu do braço de um espírito absoluto.

15- As fontes profundas precisam esperar muito para saber o que caiu na sua profundidade.

16- Com gentileza a vil sensualidade sabe mendigar um pedaço de espírito quando se lhe nega um pedaço de carne.

17- Se se quiser ter um amigo, é preciso se guerrear por ele; e para guerrear é mister poder ser inimigo.

18- É preciso honrar no amigo o inimigo.

19- No amigo deve ver-se o melhor inimigo.

20- Pela avaliação que se dá o valor; sem a avaliação, a noz da existência seria oca.

21- A mudança dos valores é mudança de quem cria.

22- O tú é mais velho do que o eu; o tú acha-se santificado, mas o eu ainda não. Por isso o homem anda diligente atrás do próximo.

23- Não só mente o que fala contra a sua consciência, mas sobretudo o que fala com sua inconsciência.

24- É preciso saber ser uma esponja quando se quer ser amado por corações exuberantes.

25- Eu não vos aconselho o amor ao próximo; aconselho-vos o amor ao mais afastado.

26- Existem tantos pensamento grandes que apenas fazem o mesmo que um fole. Incham e esvaziam.

27- O solitário estende depressa demais a mão a quem encontra.

28- Há homens a quem não deves dar a mão, mas tão somente a pata, e além disso quero que a tua pata tenha garras.

29- O pior inimigo, todavia, que podes encontrar, és tu mesmo.

30- O teu caminho passa por diante de ti e de teus sete demônios: serás herege para ti mesmo, serás feiticeiro, adivinho, doido, incrédulo, ímpio e malvado.

31- Como quererias renovar-te sem primeiro te reduzires a cinzas?

32- Que saberias do amor aquele que não devesse menosprezar justamente o que amava?

33- O verdadeiro homem quer duas coisas: o perigo e o divertimento. Por isso quer a mulher, que é o brinquedo mais perigoso.

34- A felicidade do homem é: eu quero; a felicidade da mulher é: ele quer.

35- Quando foi que o veneno de uma serpente matou um dragão?

36- Até os supérfluos, contudo, se fazem importantes com sua morte, e até a noz mais oca quer ser partida.

37- Uma boca desdentada já não tem direito a todas as verdades.

38- O amor do jovem carece da maturação.

39- Vosso espírito e vossa virtude devem inflamar até a vossa agonia.

40- Assim atravessa o corpo a história, lutando e elevando-se. E o espírito, o que é para o corpo? É o arauto de suas lutas e vitórias, o seu companheiro e o seu ego.

41- Todos os nomes do bem e do mal são símbolos; não falam, limitam-se a fazer sinais. Louco é o que lhes quer pedir o conhecimento.

42- O corpo purifica-se pelo saber, eleva-se com o esforço inteligente: todos os instintos do que pensa e conhece se santificam.

43- A alma do que se eleva alvoroça-se.

44- O homem que pondera não só deve amar os seus inimigos, mas também odiar os seus amigos..

45- Mal corresponde ao mestre aquele que nunca passa de discípulo.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

“Minha mente, sua mente.”

“Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele. O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam.”. Em O Retrato de Dorian Gray, por Oscar Wilde.

Existe muita sabedoria nas palavras, ditas acima, de Oscar Wilde e é evidente que ele tem razão sobre viver a vida, porém, temos que levar em consideração uma expressão “vulcana” que diz: “minha mente, sua mente”. No universo de Jornada nas Estrelas, do qual eu faço parte, é uma expressão até muito comum e significa que duas pessoas fazem uma espécie de “elo mental”: o que uma delas vê e sente é passada para a outra pessoa que está no elo; seria mais ou menos você vivenciar as emoções de outra pessoa se colocando na mente dela.

Alguns livros que lemos acabam nos criando essa possibilidade devido a riqueza de detalhes, de conflitos ou qualquer que seja o recurso usado pelo autor. Suas histórias nos remetem para lugares e situações que jamais experimentaríamos de outra maneira, fazem-nos sonhar, fazem-nos vivenciar em nossa mente tudo o que se passa dentro daquelas páginas. Por exemplo: li um livro, O Martelo das Feiticeiras, que foi escrito em 1484 por dois inquisidores: Heinrich Kramer e James Sprenger. Ora, esse livro foi, durante quatro séculos, o manual oficial da Inquisição. Ao lê-lo, você se coloca no lugar de um indivíduo que viveu numa época diferente da nossa, com outros valores de moralidade, sexualidade, poder, religião. É um verdadeiro documento. Outros livros fazem você vivenciar alguma história fantástica, ou te levam ao delírio sexual, ou te fazem chorar com o sofrimento de seus personagens.

Um livro também é reflexo de uma época e da vida pessoal de seu autor. As emoções, os fatos, personagens ou conflitos que o autor faz uso refletem o que ele vê em seu mundo real, posso até citar aqui o caso de Nietzsche, que em seu livro, O Anticristo, ou mesmo, Assim falou Zaratustra, prega a construção de um homem menos apegado com a religião, rompendo mesmo com o cristianismo, mas mesmo assim usando em seus discursos uma linguagem profética, tal qual foi sua criação, ou mesmo o querer de um homem melhor, refletindo-se nos horrores da guerra do qual vivenciou um pouco. Nos escritos de Nietzsche, aprendemos a conhecê-lo.

É preciso observar também que sempre existe uma mensagem que é passada para gente através da obra de um autor, seja essa obra um quadro, uma escultura, uma música, filme ou livro. A mensagem pode não ser clara, pode estar nas entrelinhas, ou pode se descoberta mais tarde por um estudioso da obra. Às vezes, é muito difícil descobrir que mensagem é essa: pode ser de esperança, de vingança, de obstinação, de algum sentimento humano. Talvez nem o autor tenha consciência da mensagem, ele pode simplesmente ir contando sua história por que a acha bonita, com inicio, meio e fim, mas que pode vir carregada de valores pessoais, morais, éticos, ou alguma coisa que ele acaba passando para o leitor, ou outro apreciador de uma obra qualquer. Faça uma experiência consigo mesmo e leia o livro: A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, e ao final, tente descobrir qual a mensagem que Kundera quer passar: o amor vence no final? ...o sentimento humano é volátil?... vale apenas lutar por um sonho? Aliás, você irá descobrir que a resposta que você achou é diferente da de um outro colega seu! Claro, seus conceitos de valores e experiências pessoais são diferentes. Ou então tente descobrir o que, por exemplo, eu quero passar para você, meu amigo, com esse singelo texto que escrevo aqui? Cá comigo, eu o estou preparando para falar do livro que estou lendo - Assim Falou Zaratustra, do qual eu vou comentar logo acima, numa próxima postagem, mas provavelmente estou passando a você traços de minha personalidade ou mesmo uma outra mensagem. Cabe a você, leitor atendo, descobrir isso.

A expressão vulcana, logo no início do texto, é proposital, pois gosto de vivenciar com emoção uma fantasia, a fim de que ela possa ficar registrada em minha mente (e agora na sua), fazendo-me sentir como se realmente eu fizesse parte dessa fantasia.

terça-feira, 29 de abril de 2008

O Papel do Fisioterapeuta na Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba: uma análise a partir da percepção do próprio profissional.

Bom dia.

Estou disponibilizando aqui em meu blog um estudo que acabo de completar como monografia do meu curso de pós graduação em saúde pública. É um estudo destinado a fisioterapeutas com interesse em saúde pública, para gestores de saúde pública e para coordenadores de cursos de fisioterapia, cujo objetivo principal é levar ao conhecimento de todos sobre o trabalho desenvolvido por fisioterapeutas na prefeitura municipal de Curitiba.

Estou disponibilizando aqui no blog o projeto de pesquisa apenas, caso você tenha interesse pelo estudo acesse os seguintes links na web que você poderá então ter acesso ao estudo completo:

http://www.scribd.com/doc/2963968/FisioterapiaSMS-Curitiba
... ou .....
http://docs.google.com/View?docid=dg4djdp3_0fzrdhn38

Cópias e distribuição são livres e peço apenas que façam a devida citação e referência de onde encontrá-lo na web.

Meu contato:

fisio007007@hotmail.com (msn)
george.ft@uol.com.br (email)
http://www.orkut.com/Home.aspx?xid=15555357228183467652 (orkut)

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1. Titulo.

O Papel do Fisioterapeuta na Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba: uma análise a partir da percepção do próprio profissional.

2. Justificativa.

Em dezembro de 2001 a Prefeitura Municipal de Curitiba (PMC), através de concurso público, lotou suas Unidades Básicas de Saúde (UBS) com aproximadamente 20 fisioterapeutas, para dar vazão a um serviço até então terceirizado por clínicas conveniadas. Esses profissionais assumiram seus postos de trabalho atendendo a uma demanda reprimida nas UBS, com triagens para encaminhamentos, atendimentos nas UBS, visitas domiciliares (VD) e participação em programas de saúde coletiva.

Passados cinco anos desde então torna-se necessário saber agora como esse profissional está inserido na atenção primária à saúde (APS) na PMC, seus progressos e necessidades de redimensionamentos.

Talvez já tenhamos dados suficientes para fazermos um levantamento estatístico (pesquisa quantitativa), mas a opção foi por um trabalho qualitativo, para saber com o próprio fisioterapeuta sua real condição de atuação.

Um trabalho desse porte envolve a totalidade dos fisioterapeutas atuantes na capital, atualmente 43 profissionais, dando a qualquer interessado, seja pessoa ou instituição, a real noção de como esse serviço evoluiu desde sua implantação e a perspectiva de como ele evoluirá no futuro. Trata-se de uma pesquisa de viabilidade técnica possível, pois a prefeitura possui um órgão (CES) que regulariza toda essa problemática de pesquisas, segundo contatos preliminares já realizados.

Sem dúvida, ficará a idéia de um modelo de atuação da fisioterapia pelas prefeituras no atendimento a atenção primária da saúde, preconizada pelo SUS.

3. Objetivos.

3.1 – Geral.

Avaliar o desempenho profissional do fisioterapeuta, na atenção primária, identificando as competências e as características de atuação, que possam servir de modelo para a instalação do serviço de fisioterapia em outras prefeituras;

3.1 – Específicos.

a) traçar um perfil profissional do fisioterapeuta que trabalha na atenção primária à saúde da Secretaria Municipal de Curitiba (SMS);

b) mapear a conduta profissional na atuação do fisioterapeuta junto à comunidade, identificando erros e acertos, na visão do próprio fisioterapeuta, que possam influir numa melhor qualidade de atendimento da população;

c) levantar as dificuldades enfrentadas pelo profissional na consolidação do serviço de fisioterapia junto à atenção primária.

4. Questionamento fundamental e hipóteses.


Como se trata de uma pesquisa quali-quantitativa, onde a preocupação maior é com a opinião do fisioterapeuta sobre o seu trabalho, não há uma pergunta fundamental. O que existe é uma necessidade de identificar condutas praticadas e, ainda, relacionar essas condutas entre si de modo a criar uma idéia do trabalho como um todo. O direcionamento da pesquisa será organizado e estabelecido durante sua evolução, mas, de certa forma, sendo norteado pelo questionamento: o fisioterapeuta da PMC está sendo aproveitado de uma maneira satisfatória na atenção primária à saúde nos serviços da PMC, segundo sua própria perspectiva?

Sim, ele está sendo bem aproveitado e seu serviço é de real valor (hipótese), pois passados quase cinco anos a prefeitura duplicou o número desses profissionais através de nova contratação, além disso, levantamentos preliminares informais indicam uma diminuição dos encaminhamentos para as clínicas conveniadas (com conseqüente economia financeira para a prefeitura); também, a participação em conselhos de saúde indicam uma maior satisfação por parte da comunidade.


5. Metodologia.


5.1- O tipo de pesquisa será quali-quantitativa pois, além da pequena quantidade de dados informativos colhidos num questionário fechado inicial (quantitativo), será feita também uma entrevista extensa com os sujeitos, no modo estruturado, que será a base do projeto (qualitativo), com técnica de análise de conteúdo durante a anásise dos dados.

5.2- A população envolvida na pesquisa será a totalidade dos fisioterapeutas (ft) lotados nos diversos equipamentos da SMS, quais sejam: 26 ft nos distritos sanitários (DS) da PMC, 3 ft na US Ouvidor Pardinho, 8 ft nas EMEE, 2 ft na SMS e 4 ft sob licença, somando 43 profissionais.

5.3- Será utilizado um formulário de identificação com dados pessoais e informações básicas sobre formação acadêmica para cada fisioterapeuta. Os dados brutos a serem levantados pela pesquisa serão baseados em uma entrevista individual tipo estruturada e bloco de anotações de campo para pequenas informações julgadas relevantes. A entrevista será gravada com o consentimento do entrevistado obrigatoriamente, mesmo as realizadas por telefone e com assinatura prévia do termo de consentimento.

5.4- Será feito um contato inicial com a coordenação da fisioterapia para verificar a possibilidade de horários e os contatos telefônicos/e-mail dos sujeitos da pesquisa. De posse desse material será feito o contato para agendamento de horário e local das entrevistas desse grupo inicial e assim sucessivamente com os grupos restantes. O local das entrevistas será preferencialmente o próprio DS onde trabalham ou, na sua impossibilidade, outro local previamente combinado pelas partes, inclusive, via telefone.

5.5- O roteiro para as entrevistas constará dos seguintes tópicos:

- área de atuação;
- satisfação pessoal;

- satisfação da comunidade (experiência pessoal do próprio profissional)

- apoio da prefeitura;

- autonomia profissional;

- dificuldades em qualquer esfera;

- projetos em vista;

- capacitação profissional;

- inter-profissionalidade.

5.6- O gravador de voz será usado preferencialmente, mas somente com o consentimento do entrevistado.


6. Análise dos Resultados (interpretação dos dados).


O método utilizado para a interpretação dos resultados será análise de conteúdo, onde serão analisados todos os dados transcritos de todas as entrevistas. As entrevistas gravadas serão transformadas em arquivos de áudio digital para que possam ser identificadas, organizadas e indexadas. As anotações em bloco serão digitalizadas e indexadas também para que possam ser confrontados com os respectivos arquivos de áudio, a fim de que se dê coerência ao conjunto de informações da pesquisa.
Feito isso, haverá uma análise criteriosa com o uso do computador para identificar e cruzar os dados e informações, de maneira que se traduzam em uma interpretação confiável dos resultados.

A fim de se conseguir o menor número de vieses e maior credibilidade, será realizada uma ratificação da análise por um outro fisioterapeuta.

7. Discussão e divulgação dos resultados (e resultados esperados).

A discussão do resultado visa identificar, no conjunto de informações da pesquisa, perfis de conduta do profissional, que indiquem com clareza:

a) o que o fisioterapeuta faz na SMS;

b) o que ele espera fazer na SMS;

c) como é o seu relacionamento em todas as esferas (população, outros profissionais e secretaria de saúde);

d) quais são suas dificuldades diárias no desempenho de sua profissão e

e) qual é o seu grau de satisfação.

Espera-se com isso fazer um perfil de atuação profissional do fisioterapeuta que atua na esfera da atenção primária à saúde da SMS da prefeitura de Curitiba. Os resultados obtidos serão apresentados como trabalho de conclusão do curso de Saúde Pública do IBPEX (ligado a FACINTER), podendo, inclusive, ser divulgado em revista da profissão ou banco de dados da internet, sob a forma de artigo.

8. Cronograma (planejamento, execução e divulgação).

Pesquisa do tema: Já feito

Leitura preliminar da literatura: já feito

Comitê de ética:

- obtenção da folha de rosto do SISNEP: 30/04/2007

- entrega do projeto no comitê de ética: 02/05/2007

- reunião do comitê de ética: 31/05/2007

Prefeitura Municipal de Saúde (SMS):

- entrega do projeto da SMS: 07/06/2007

- aprovação da SMS: 30/06/2007

Leitura detalhada da literatura: simultâneo ao comitê de ética (30/04/2007 a 30/06/2007)

Inicio do trabalho de campo: 25/06/2007

ETAPAS SEGUINTES:

DATA DE INICIO:

DURAÇÃO:

Entrevistas

25/06/2007

3 meses

Reunião do material coletado

01/10/2007

1 semana

Análise e discussão do resultado

08/10/2007

1 semana

Redação da pesquisa

15/10/2007

2 semanas

Revisão do trabalho

29/10/2007

5 dias

Entrega ao IBPEX

19/11/2007


Obs.: Os prazos com data correta seguem calendário de entrada do Comitê de Ética do IBPEX e da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba e poderão ser dilatados na mesma proporção em que forem sofrendo atrasos nas respectivas instituições.

9. Orçamento (recursos a serem utilizados e fonte patrocinadora).

O material necessário à pesquisa consta de material de escritório (lápis, canetas, blocos de anotações), gravador e fitas necessárias para a gravação das entrevistas; gastos com transporte (ônibus ou carro) para a realização das entrevistas; bloco de 500 fl de papel ofício para confecção das fichas de identificação e folhas de consentimentos; e um computador para análise dos dados e confecção dos resultados. Todo esse material implicará em um gasto pessoal do pesquisador, não sendo reembolsado por qualquer pessoa ou instituição.

10. Aspectos éticos e legais.

A pesquisa será suspensa:

1 - por determinação unilateral da PMC sob qualquer justificativa julgada conveniente pela mesma;

2 – por impossibilidade pessoal do pesquisador por circunstâncias excludentes a sua própria vontade, com aviso aos sujeitos da pesquisa;

O termo de consentimento será de acordo com o modelo fornecido pelo IBPEX, com assinatura obtida de forma voluntária previamente à entrevista de cada sujeito da pesquisa. No termo será explicitado ao sujeito como será a pesquisa, a entrevista e como será resguardado seu sigilo e saúde. É facultado a sujeito, concordar ou não com os termos, inclusive, participar ou não da entrevista.

Não haverá riscos para a saúde dos sujeitos, nem entrevistas com sujeitos de grupos vulneráveis, nem uso de medicamentos ou equipamento biológico, sendo assegurado o anonimato de todos os sujeitos bem como a garantia que não haverá detalhamento sobre informações trabalhistas ou que impliquem em qualquer tipo de constrangimento destes para com a SMS.

11. Referências.

1. Protocolo Fisioterapêutico da SMS da prefeitura de Curitiba.
2. Endereço de internet da PMC. http://www.curitiba.pr.gov.br/Secretaria.aspx?o=3
3. Endereço de internet do IBPEX. http://www.ibpex.com.br
4. Endereço de internet do SISNEP. http://portal.saude.gov.br/sisnep
5. Veras MMS. A inserção do fisioterapeuta na Estratégia Saúde da Família de Sobral-CE. Sobral, CE; 2002.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Brasil nunca pertenceu aos índios.

"Por sua importância e oportunidade, apresentamos abaixo o artigo sobre os 500 anos do Descobrimento do Brasil, de autoria de Sandra Cavalcanti, ex-deputada e atual Secretária Municipal de Projetos Especiais do Rio de Janeiro, originalmente publicado no Jornal do Brasil em 21/abr/00.

O Brasil nunca pertenceu aos índios
Por Sandra Cavalcanti

Quem quiser se escandalizar, que se escandalize. Quero proclamar, do fundo da alma, que sinto muito orgulho de ser brasileira. Não posso aceitar a tese de que nada tenho a comemorar nestes quinhentos anos. Não agüento mais a impostura dessas suspeitíssimas ONGs estrangeiras, dessa ala atrasada da CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialistas que estão fazendo surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito racial.

Para começo de conversa, o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era completamente outro. Quando a poderosa esquadra do almirante português ancorou naquele imenso território, encontrou silvícolas em plena idade da pedra lascada. Nenhum deles tinha noção de nação ou país. Não existia o Brasil.

Os atuais compêndios de história do Brasil informam, sem muita base, que a população indígena andava por volta de cinco milhões. No correr dos anos seguintes, segundo os documentos que foram conservados, foram identificadas mais de duzentos e cinqüenta tribos diferentes. Falando mais de 190 línguas diferentes. Não eram dialetos de uma mesma língua. Eram idiomas pró-prios, que impediam as tribos de se entenderem entre si. Portanto, Cabral não conquistou um país. Cabral não invadiu uma nação. Cabral apenas descobriu um pedaço novo do planeta Terra e, em nome do rei, dele tomou posse.

O vocabulário dos atuais compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a denominação implantada por dezenas de ONGs que se espalham pela Ama-zônia, sustentadas misteriosamente por países europeus. Só se fala em nações indígenas.

Existe uma intenção solerte e venenosas por trás disso. Segundo alguns integrantes dessas ONGs, ligados à ONU, essas nações deveriam ter assento nas assembléias mundiais, de forma independente. Dá para entender, não? É o olho na nossa Amazônia. Se o Brasil aceitar a idéia de que, dentro dele, existem outras nações, lá se foi a nossa unidade.

Nos debates da Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa, fazer a troca das palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta Magna ficou com a palavra tribo. Nação, só a brasileira.

De repente, os festejos dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de desculpas aos índios. Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um país. Viraram a conquista de uma nação. Viraram a perda de uma grande civilização.

De repente, somos todos levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos índios! Que maldade! Que absurdo, esse negócio de sair pelos mares, descobrindo novas terras e novas gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST, dos nacional-socialistas e das ONGs européias, naquela tarde radiosa de abril teve início uma verdadeira catástrofe.

Um grupo de brancos teve a audácia de atravessar os mares e se instalar por aqui. Teve e audácia de acreditar que irradiava a fé cristã. Teve a audácia de querer ensinar a plantar e a colher. Teve a audácia de ensinar que não se deve fazer churrasco dos seus semelhantes. Teve a audácia de garantir a vida de aleijados e idosos. Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.

Teve a audácia de pregar a paz e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.

Mais tarde, vieram os negros. Depois, levas e levas de europeus e orien-tais. Graças a eles somos hoje uma nação grande, livre, alegre, aberta para o mundo, paraíso da mestiçagem. Ninguém, em nosso país pode sofrer discri-minação por motivo de raça ou credo.

Portanto, vamos parar com essa paranóia de discriminar em favor dos ín-dios. Para o Brasil, o índio é tão brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e o amarelo. Nas nossas veias correm todos esses sangues. Não somos uma nação indígena. Somo a nação brasileira.

Não sinto qualquer obrigação de pedir desculpas aos índios, nas festas do Descobrimento. Muitos índios hoje andam de avião, usam óculos, são donos de sesmarias, possuem estações de rádio e TV e até cobram pedágio para es-tradas que passam em suas magníficas reservas. De bigode e celular na mão, eles negociam madeira no exterior. Esses índios são cidadãos brasileiros, nem melhores nem piores. Uns são pobres. Outros são ricos. Todos têm, como nós, os mesmos direitos e deveres. Se começarem a querer ter mais direitos do que deveres, isso tem que acabar.

O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi."

Perdendo o medo.

Ao longo de nossas vidas, vamos aprendemos a reconhecer o bem e o mal, o certo e o errado, o confortante e o angustiante, a própria lei nos indica também muitas coisas que podemos ou não fazer. Aprendemos a reconhecer essas diferenças de várias maneiras possíveis: quer seja através do ensinamento de nossos pais, da nossa escola, do nosso trabalho, das nossas experiências pessoais. Porém, determinadas ações têm seus limites um pouco mais imprecisos, principalmente aqueles que envolvem nossos sentimentos. Entra então em jogo um outro grupo de regras que são vulgarmente chamadas de ética. São regras que não estão escritas, mas que também ditam nossa conduta e nos permitem avançar até determinados pontos. Tomamos nossas decisões baseados então nesse conceito de ética que temos. Mas muitas pessoas contornam essa ética, com o véu da hipocrisia, por que muitas vezes o que é ético para uma pessoa não ético para outras, pois seus valores são diferentes. E isso nos permite viver num falso mundo onde temos que usar várias máscaras para poder lidar com várias situações diferentes. As pessoas que usam menos máscaras costumam ser menos hipócritas, pois seus valores costumam ser mais bem definidos. Isso causa espanto, e admiração, em muita gente, mas também causa muita dor, pois ninguém é suficientemente forte para viver a vida de forma verdadeira. De qualquer jeito, as máscaras que usamos, a ética que adotamos e a liberdade de sermos mais ou menos hipócritas, cria um barreira em torno da gente, e é uma barreira que vamos formando ao longo de nossas vidas, é uma barreira que protege a nós ou a nossos entes queridos, da ambigüidade de nossos próprios sentimentos.

Talvez jamais devêssemos tentar cruzar alguns desses limites de nossas vidas. Eles estão lá para nossa proteção, são barreiras naturais que nós próprios construímos para que não viéssemos a precisar lidar com nossa ética, ou com nossa hipocrisia. Ocorre que muitas vezes desejamos vencer alguns obstáculos e então nos deparamos com esses limites. Construímos um mundo a nossa volta, para nos proteger dos perigos e os maiores perigos, na verdade estão dentro de nós mesmos. O amor, o ódio, a amizade, a felicidade, e tantos outros sentimentos sob os quais vamos criando nossos alicerces. Nós fazemos um muro em volta de tudo isso, criamos regras fixas para que tudo funcione e dizemos para nós mesmos até onde podemos ir. E não devemos jamais ultrapassar esses muros.

Mas chega uma hora em que o insano que está dentro de você precisa se libertar, chega uma hora que você cansa de ser o certinho, de andar arrumado, de estar limpinho. Chega uma hora em que você quer pagar para ver. Você quer ultrapassar aqueles limites que você próprio estabeleceu ao longo de sua vida. E você sabe que o risco não vale a pena. O risco é tão grande, mas você percebe que a recompensa também o é. Alguma coisa dentro de você o impele contra esse muro. Alguma besta ou anjo negro te joga contra o muro, enquanto um anjo branco te nega a felicidade plena. E na balança você sofre entre a mentira da vida, a hipocrisia das ações e as verdades que precisam ser testadas, os pecados que precisam ser cometidos. É como comer a maça na árvore da verdade. Esses desafios ficam rondando a gente por aí, estão ao nosso lado nos testando o tempo todo, e um dia você será ameaçado por eles. Eles vão gritar bem alto dentro de seu ouvido: - É com você que estou falando, seu hipócrita: vai ficar aí parado ou vai tomar uma atitude!

E meu amigo, qualquer que seja sua atitude, ela irá mudar a sua vida. Você define suas ações e suas ações definem você. E qualquer que seja sua decisão ela irá lhe abrir uma janela de compreensão, que não mais se fechará. Você nunca vai estar preparado para tomar essa decisão, você nunca vai estar preparado para testar o limite de sua ética, da sua moral, ou para ver até onde você é um hipócrita, ou mesmo para testar o seu amor, que você jurou defender. A vida é assim, sempre te testando, tornando-o um fraco ou um forte. E a escolha é apenas sua.